segunda-feira, 15 de maio de 2017

Falecimento do Pato que ainda agora tinha entrado em cena

Acho que é mais fácil ser um assassino em série do que um narrador dos feitos dos mesmos. Não pelo trabalho que dá, pois esse pouco difere – vão ter de aceitar a minha palavra a esse respeito, porque o meu advogado aconselha-me a não me alongar sobre este ponto. De qualquer forma, o problema é a disponibilidade de candidatos a cadáveres. Enquanto a vida real está cheia deles, as narrativas ditas ficcionais estão forçosamente limitadas ao leque de personagens que as povoam.

O Pato é um bom exemplo disso. Por economia de enredo, era o único agente da autoridade de que dispúnhamos, e seria uma boa ideia conservá-lo – isto é, conservá-lo vivo, visto que muito poucos investigadores criminais conseguem apresentar um bom trabalho depois de ficarem esticadinhos. Mas infelizmente ele tomou a desagradável atitude de me ignorar, o que naturalmente me forçou a espetar-lhe uma vara extremamente ferrugenta num local que não identifiquei inteiramente, mas que veio a provar-se fatal. O resultado disto é que o próximo inspector vai ter de investigar duas mortes.

Espero que por esta altura já tenham percebido que eu não sou um assassino em série, e muito menos um narrador de casos fictícios. Sou, pelo contrário, uma pessoa cordialíssima, que apenas gosta de ser respeitada. Se alguém me insulta com a sua intolerável alarvidade, ou com o desprezo de não me dirigir a menor pergunta, parece-me que a atitude razoável a tomar é matá-lo. Se isto faz de mim um assassino, então somos todos assassinos. Bem, um ou outro de nós, pelo menos.

Vivam bem, boas mortes, e sobretudo não sejam apanhados.

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