terça-feira, 4 de julho de 2017

Tal pai, tal filho

Voltei hoje de férias. Sim, bem vejo daqui a vossa surpresa, sei que não me tomavam por veraneante habitual, nem sequer esporádico. Manda a verdade que vos dê razão, as férias não são de facto a minha praia, passe o fraco trocadilho. O que me levou a mudar de ares por todo um mês foi aquela chatice do Barbosa. Refiro-me ao filho, e à aborrecida coincidência de ter seguido o pai para o túmulo pouco mais de duas semanas após o passamento deste. A polícia andava a investigar aquilo que nos corredores da Judiciária dava já pelo nome das Mortes do Café Esperança, e quando foram entrevistar uma vez mais o filho para ver se aquela cachimónia dava algum escasso fruto, ficaram naturalmente frustrados por o encontrarem empalado num poste de alta tensão, a deitar faíscas por todos os orifícios que tinha, e mais alguns novos.

Eu sei que foi uma imprudência da minha parte; devia ter esperado alguns meses antes de matar aquela avantesma, mas, compreendem, ele era tão estúpido… É quase um crime deixar de assassinar alguém que tem a ideia, que leva de facto por diante a ideia, de matar um chouriço para servir num funeral. Retirar semelhante indivíduo do convívio dos vivos é um dever de justiça, que não se pode, não se deve, vergar a meras conveniências pessoais, como por exemplo evitar a prisão.

O poste de alta tensão também não foi a minha melhor ideia, confesso. A vizinhança sofreu um considerável sobressalto quando todas as televisões emitiram um uivo simultâneo e começaram a transmitir imagens um pouco nojentas das vísceras do Barbosa filho em alta definição. Os que resolveram desanuviar o espírito indo espairecer um pouco à janela foram brindados com uma repetição do espectáculo, mas ao vivo, deixando-os na dúvida sobre se deviam chamar a polícia ou a companhia da electricidade. Foi então que eu decidi viajar.

Vejo agora que sobrestimei a inteligência da polícia. Regressei, e tudo está calmo. Só me desgosta ainda não ter ainda visto Isabel, mas tenho tempo. O que é mais do que podem dizer aqueles sete indivíduos que me aborreceram durante as minhas férias, e que agora não vão poder aborrecer mais ninguém.

Vivam bem, boas mortes, e sobretudo não sejam apanhados.

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